VIDA DE COMISSÁRIO DE VOO
O que acontece nos bastidores do voo
IV
Viajar o mundo, se relacionar
com pessoas interessantes, tomar café da manhã em bons hotéis, ver o nascer e o
pôr do sol do alto, parece o trabalho dos sonhos de qualquer pessoa, não é
mesmo?
Mas junto com tudo isso tem
uma vida de carregar malas, conviver com mudanças bruscas de horários, com
alterações no relógio biológico além de fusos horários diferentes. Ter como
casa hotéis diferentes, ou seja, dormir e acordar cada dia em um hotel, em uma
cidade, e até em um país, conviver com equipes de trabalhos diferentes sempre
etc. Em resumo: nada de rotina
Muitas situações hilárias
podem surgir dessa vida tão singular. E para homenagear esse profissional tão
querido vamos contar algumas dessa situações enfrentadas por eles ao lidar com
a falta de rotina.
Vida louca gera mil
atrapalhadas.
Aline hoje tem muita
experiência em voos internacionais, tem mais de 15 anos na profissão, mas logo
que iniciou estava fazendo ponte aérea, em média 6 “pernas” por dia (6 pousos
e 6 decolagens). Ora pernoitava em São Paulo, ora no Rio de Janeiro, um trabalho
para lá de exaustivo e com poucas, mas muito valorizadas, folgas semanais. Seu
despertador tocava todos os dias as 4:00 da manhã e começava sua rotina de
banho, maquiagem, cabelo impecável, meia fina, uniforme alinhado e corrida para
chegar no horário.
Um dia desses ela chegou um
pouco atrasada em Congonhas, quando entrou no computador da empresa para se
apresentar para o voo, seu nome não estava lá. Ficou desesperada achando que
por conta do atraso tinham tirado ela do voo. Ligou para a escala e após alguns
minutos a constatação: era sua folga. Ela acordou cedo, se produziu inteira,
pegou trânsito no seu ÚNICO dia de folga da semana.
O desejo da Aline (ela me
confessou) era se estapear, mas não podia, além do que era necessário
manter a postura e não dar bandeira para que seus colegas não rissem dela. E para
ajudar a casa dela era muito longe do aeroporto.
Sabiamente resolveu aproveitar
o dia, estudar e fazer algumas coisas que precisava. Hoje ri disso e atribui o
erro a vida agitada e a falta de experiência, mas no dia ficou mesmo com raiva
de si mesma.
Foi tudo isso junto que
provocou outra situação com a Aline, só que dessa vez em um voo internacional,
mais precisamente em Londres. Ela conta que sempre foi instruída pela companhia
a zelar muito dos documentos, principalmente do passaporte, que tem um grande
valor no mercado negro. Por isso criou um esconderijo em cada hotel que
pernoitava para seus documentos.
Ela os guardava entre o coxão e o estrado da
cama. Sempre funcionou muito bem e dava tranquilidade e segurança para Aline
saber que tudo estava bem guardado.
Nessa viajem para Londres ela
resolveu sair, dar um passeio na sua hora de descanso e deixou seus documentos
e passaporte no seu esconderijo. Ao retornar ao hotel, preocupada em não se
atrasar, se arrumou e se apresentou pontualmente para o briefing.
No aeroporto de Londres naquela ocasião não era necessário apresentar o passaporte. Sua
viajem foi bem tranquila e ela não deu falta de nada, só quando desembarcou no
Brasil que percebeu seu erro.
Foi parar na polícia federal,
sua chefia foi comunicada, levou uma tremenda bronca. Para resgatar seu
passaporte pediu ajuda da tripulação que chegaria naquele mesmo hotel. Precisou
também ligar para a recepção do hotel e “gastar” seu inglês para explicar seu
esconderijo. Ela conta que foi difícil para as camareiras entenderem que não
era embaixo da cama, mas embaixo do coxão.
Michelle por sua vez conta que
demorou muito para que seu cérebro entendesse essa questão de dormir cada dia
em um quarto de hotel diferente. Até que se adaptasse muitas situações
aconteceram.
Quando se levantava a noite
para usar o banheiro sua dificuldade era imensa. Michelle conta que cansou de
parar dentro do armário procurando o vaso sanitário, por exemplo.
Em outra ocasião abriu a porta
do quarto e saiu no corredor pensando que estava entrando no banheiro. Claro
que a porta do quarto fechou com ela do lado de fora. Precisou descer à recepção
de pijamas para pedir ajuda.
Ela conta rindo que o
principal aprendizado que tirou dessa situação foi que precisava usar pijamas
bem-comportados.
Terminamos assim nossa
homenagem a todos os comissários de voo.
Parabéns pelo seu trabalho!
E você como se comporta quando
dorme em um quarto diferente do seu?
Seu relógio biológico funciona
a pleno vapor?
Você fica muito afetado quando
viaja para lugares onde tem fuso horário diferente?
Conte para nós suas
experiências.
Vou adorar conhecer.