Na última quarta-feira, a Azul precisou cancelar cinco voos
em Porto Alegre no início da manhã, devido à baixa temperatura que se aproximou
de 0º C, por incrível que pareça, em um país tropical, tivemos gelo nas asas
das aeronaves, e o atraso foi referente ao tempo para a remoção.
Durante uma reportagem em uma emissora de televisão, a
repórter mencionou “se avião não bate asa, porque não se pode voar com formação
de gelo em suas estruturas?”. Não vamos divulgar e nem mesmo crucificar a repórter,
até porque ela estudou jornalismo e não aviação, então neste post iremos acabar
com essa dúvida.
A crença popular é que o problema do gelo é o peso acrescido
na estrutura da aeronave, isso está errado. O verdadeiro problema está na
modificação do fluxo de ar sobre superfícies das asas e de controles de voo.
Quando o gelo se forma, acaba que alterando o formato da superfície
das asas, o equilíbrio das forças aerodinâmicas é afetado e o desempenho da
aeronave se deteriora devido a diferença do formato das asas, aumentando seu
arrasto e diminuindo a sustentação.
A formação de gelo é comum nas seguintes partes dos aviões:
Asas e empenagem: O gelo se forma principalmente no bordo de ataque das asas e dos
estabilizadores vertical e horizontal. Para esse caso, a aeronave conta com um
sistema de ar quente fornecido pelo sistema pneumático para aquecer as áreas
afetadas.
Esse sistema é utilizado em aeronaves a jato. Para aeronaves
menores, existem o aquecimento elétrico substituindo o pneumático, por meio da
instalação de uma folha metálica no bordo de ataque. Ao energiza-la, a folha
produz aquecimento que derreterá o gelo. Outra possibilidade é o uso de boots
de borracha, encontrados em aeronaves da Cessna, por exemplo. São instalados no
bordo de ataque, ao serem inflados, quebram e expelem o gelo para fora da superfície.
Hélices: As hélices são aparelhos idênticos as asas, tem o
mesmo formato e mesmo trabalho aerodinâmico, o gelo altera seu perfil da pá e
diminui o desempenho da hélice, ocorre também o desbalanceamento, causando
vibrações. A proteção é fornecida por aquecimento elétrico ou aplicação de
líquido descongelante, como o álcool isopropílico.
Motor: nos motores a pistão, é comum a formação de gelo no
carburador, devido à expansão da mistura ar-combustível após o Venturi, que
resfria o ar e provoca a condensação e o congelamento da umidade do
ar,acumulando gelo junto à borboleta do carburador. O principal sintoma de formação de gelo no
carburador é a queda de rotação, devido
ao bloqueio da passagem da mistura pelo carburador, agindo como se a borboleta
estivesse sendo fechada.
Mas a queda depressão de admissão ou o funcionamento
irregular do motor também são sintomas da formação de gelo.O acionamento pelo
piloto do aquecimento do ar de admissão é suficiente para evitar o problema.Já
nos motores, a reação é comum à formação de gelo no duto de admissão e nas pás
do compressor, causando queda de rendimento e provável dano às pás (blades) do
compressor, se parte do gelo se soltar e for ingerida pelo motor.
O sistema de proteção antigelo, nesse caso, usa o ar
sangrado do motor pelo sistema pneumático, para aquecer essas partes sensíveis
ao gelo. Alguns sensores do motor à reação também podem sofrer com a formação
de gelo e são protegidos da mesma forma ou por aquecimento elétrico.
Para-brisas: a manutenção da transparência do para-brisas
pode ser afetada pela formação de gelo ou de condensação, atrapalhando a visão
do piloto. Uma resistência elétrica embutida entre as camadas de vidro, ao ser
ligada, provoca o aquecimento do para-brisa e a proteção antigelo. Para
aeronaves mais simples, o uso de jatos de ar quente direcionado ao vidro ou à
aspersão de líquido anticongelante, pode prevenir a formação de gelo ou o
embaçamento do vidro.
Tubos de pitot: sensores e drenos: se entupidos, os tubos de
pitot causam informações errôneas nos instrumentos de voo. Os sensores de
temperatura, de pressão estática e de ângulo de ataque, para citar
alguns,também podem ter seu funcionamento alterado por acúmulo de gelo. Drenos
de água também entopem, se congelados. Nesses casos, a prevenção é feita por
meio de resistências elétricas instaladas internamente no corpo desses
equipamentos, de modo a mantê-los aquecidos o suficiente para evitar a formação
de gelo.
Fonte: Hangar 33
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