Durante
todo o dia a maioria de nós precisamos tomar importantes decisões, e isso não é
diferente no dia a dia de um piloto ou controlador de tráfego aéreo. Algumas vezes esses profissionais precisam
tomar suas decisões em circunstâncias muito complexas, em situações de
emergência, sob muito estresse e em ambientes degradados.
Na atividade aérea as aeronaves voam normalmente em grande velocidade, e, caso aconteça algo errado não há tempo para pedir opiniões, consultar os manuais, ou “pedir ajuda aos universitários”. Fazendo uma analogia com um carro, se você tiver um problema mecânico basta parar no acostamento. Acho que todos concordam que em voo a situação é bem mais complicada.
Na atividade aérea as aeronaves voam normalmente em grande velocidade, e, caso aconteça algo errado não há tempo para pedir opiniões, consultar os manuais, ou “pedir ajuda aos universitários”. Fazendo uma analogia com um carro, se você tiver um problema mecânico basta parar no acostamento. Acho que todos concordam que em voo a situação é bem mais complicada.
No
Código Brasileiro de Aeronáutica no Art. 166 diz que “O comandante é
responsável pela operação e segurança da aeronave”. Por essa razão, as
autoridades aeronáuticas têm tanta preocupação com a formação e treinamento de
pilotos e controladores de tráfego aéreo. Os pilotos precisam estudar
regulamentos de tráfego aéreo, navegação aérea, meteorologia aeronáutica,
aerodinâmica e motores, além de conhecimentos relacionados operação da aeronave
que voa.
Além
disso, eles necessitam de constante atualização, fazem cursos de reciclagem e
provas de regulamento de tráfego aéreo anualmente. Adicionalmente a todo esse
conhecimento deve ser desenvolvido também o conceito e a doutrina de segurança
de voo, para que o piloto possa estar comprometido e efetivamente agir e
decidir de forma assertiva e segura em suas operações.
Infelizmente
alguns profissionais, graças a Deus uma pequena minoria, conhecem o conceito
apenas na teoria e não na prática. E o resultado é fácil de imaginar: esses
pilotos, se passarem por uma situação de emergência, é muito provável que não
saberão tomar a decisão correta, aquela que poderia evitar um acidente e salvar
muitas vidas.
Será
que é possível identificar estes tais, que são exceções, mesmo antes de provocarem
um acidente? Eu acredito que sim. Costumo dizer que eles têm o “perfil do
piloto acidentado”. Costumam se se comportar da seguinte forma:
·
São
pessoas normalmente arrogantes, têm uma verdade própria;
·
Desprezam
as Regras de Tráfego Aéreo dizendo que só servem para atrasar a aviação;
·
Menosprezam
as instituições e as autoridades;
·
Consideram-se
“Às da aviação” um verdadeiro Top Gun,
gostam de viver perigosamente e de contar histórias de como descumpriram as
regras e ainda, debocham dizendo que deu tudo certo. Mas um dia, se acontece um acidente, não
haverá mais história para contar.
Que
bom que esses profissionais, se é que podemos chama-los assim, são realmente
uma minoria. A aviação funciona seguramente com regras claras e conhecidas por
todos os profissionais, e a cultura de segurança de voo é amplamente difundida
e seguida por todos.
Mas
eu quero fazer uma pergunta: Um piloto pode descumprir as regras de tráfego
aéreo legalmente? A resposta é sim.
A
ICA 100-12 Regras do Ar, no item 3.4.1 diz: “O piloto em comando, quer esteja
manobrando os comandos ou não, será responsável para que a operação se realize
de acordo com as Regras do Ar, podendo delas se desviar somente quando
absolutamente necessário ao atendimento de exigências de segurança.”
A
única condição para que um piloto possa se desviar ou descumprir as Regras do
Ar é exclusivamente em uma situação de emergência onde ocorra risco de vida
humana, caso contrário esse piloto incorrerá em infração de tráfego aéreo.
O direito à vida é um direito natural, nasce com o homem, é
garantido e protegido pelo ordenamento jurídico brasileiro, portanto quando o
piloto tomar qualquer
decisão procurando salvar as pessoas, nenhum tribunal humano irá condená-lo.
Um
piloto que declare emergência deve deixar claro aos órgãos de tráfego aéreo da
real situação que se encontra, conforme a ICA 100-12 Anexo A, item 1.1, onde
diz que se o piloto usar a palavra MAYDAY
indica que ele está ameaçado de grave e iminente perigo, necessita de
assistência imediata e o acidente é inevitável.
Nesta
situação o piloto deve prosseguir imediatamente para o pouso, os órgãos de
controle irão abrir caminho para aeronave e preparar o aeroporto para receber a
emergência.
Mas
e se houver outra aeronave que declarou emergência primeira? Como resolver essa
situação? O piloto deve esperar até que a outra aeronave tenha pousado?
Neste
caso, o órgão de Controle de Tráfego Aéreo deve informar a posição exata da
outra aeronave em emergência, como por exemplo, posição no procedimento, distância
em relação pista, etc. Para que o piloto da segunda aeronave possa tomar a
decisão mais acertada possível.
É
importante destacar que a decisão de continuar aproximando para o pouso ou iniciar
uma aproximação de emergência é do comandante da aeronave que está em
emergência numa situação em que o acidente é inevitável. Logicamente ele deve informar
se possível, todas suas ações para que o órgão de controle proporcione a melhor
assistência.
Você
pode estar pensado, mas se essa aeronave vir a conflitar ou até colidir com a primeira
que declarou emergência a catástrofe não pode ser ainda maior? É lógico que
essa situação é muito rara, mas acontecimentos recentes mostram que é
perfeitamente possível.
Vamos
então imaginar essa possibilidade, suponha que as aeronaves se aproximaram
muito na reta final, ou ainda pior, a primeira aeronave sofra um acidente ao
tocar a pista. É lógico que o órgão de controle deveria de imediatamente
comunicar o fato ao comandante da segunda aeronave, então evidentemente não
seria possível o pouso naquela pista.
Coloque-se
nesta situação, o que você faria? Provavelmente você jogaria a aeronave onde
fosse possível, na lateral da pista ou numa pista de taxi. Veja que a preocupação
agora seria causar o menor dano a aeronave para que maior número de pessoas pudessem
se salvar. Eu sei, é terrível pensar assim, mas na aviação temos que estar
preparados, mesmo para situações tão extremas como essa.
Imagine
agora a outra situação, para que fique claro o que disse: Digamos que um piloto
declare emergência, por exemplo, fogo no motor, e os órgãos de tráfego aéreo
informem que o pouso não pode ser autorizado, visto que naquele momento devido
um problema qualquer estavam sem bombeiros, mas você está em emergência e
precisa pousar agora. O que você faria? Acredito que você decidiria prosseguir
assim mesmo para o aeroporto, independentemente de ter bombeiro ou não. E nesse
caso, você não estaria contrariando as instruções do controle? Sim estaria.
Por
isso, está previsto que o piloto pode contrariar as Regras do Ar, quando
absolutamente necessário para segurança, ou seja, para salvar vidas humanas
especialmente.
Costumo
dizer aos meus alunos quando temos uma emergência grave, isso precisa ficar absolutamente
claro aos órgãos de controle, para que eles possam prestar todo apoio possível.
Qual
então é a função dos órgãos de Controle de Tráfego Aéreo, nestes momentos? Abrir
caminho, preparar o aeroporto para a emergência, e jamais impedir a aproximação
da aeronave se o piloto decidiu fazê-lo.
Lembre-se: Em última
análise a decisão final é do piloto que está em emergência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário